André Ceciliano é aliado de Cláudio Castro e de bolsonaristas no Rio de Janeiro - por Mauro Lopes | Revista Fórum

2022-07-22 20:23:05 By : Mr. BingHuang Chen

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano, pré-candidato do PT ao Senado, mantém uma aliança com o governador do Estado, Cláudio Castro (PL), considerado o mais bolsonarista dos governadores, e trafega com desenvoltura no bolsonarismo. A proximidade com Castro é correspondente ao antagonismo e antipatia de Ceciliano em relação ao candidato da aliança PT-PSB ao governo, Marcelo Freixo.

Ao longo dos meses, Ceciliano tem justificado sua proximidade com Castro pela necessidade de uma relação “institucional” com o governador, pelo fato de ser presidente da Assembleia Legislativa. A proximidade "institucional" parece ser insuficiente para explicar as cenas públicas de afeto entre os dois. Circulam nas redes sociais fotos de Ceciliano beijando Castro e em abraços calorosos. O presidente da Assembleia justifica os gestos afirmando que é seu “jeito de ser”. No entanto, não há registro de beijos de Ceciliano em Freixo. 

Não há registro de uma crítica sequer de Ceciliano a Castro, nem mesmo quando o governador, no fim de maio, referiu-se às pessoas assassinadas por policiais durante a chacina do Jacarezinho como “vagabundos”. Na Chacina do Jacarezinho foram mortos 27 moradoras e moradores e um policial.

Apesar de Ceciliano afirmar sua relação meramente protocolar com Castro, ele seria, segundo políticos do Rio, o padrinho do secretário de Obras do estado, Rogério Brandi. Ceciliano nega, afirmando sequer conhecer o secretário. Mas Brandi afirmou recentemente à Coluna do Estadão ter "relação de amizade de anos" com o presidente da Assembleia petista e que, por conta disso, tem “procurado atender a todos os pleitos do parlamento estadual". 

Veja fotos de Ceciliano com Castro que circulam nas redes sociais:

Em diversas entrevistas, Ceciliano tem alardeado a existência de um suposto voto “Lula-Castro” no Rio e não esconde sua simpatia pela fórmula que segundo ele, seria “natural”. Ceciliano não se contenta com declarações sobre o tema, mas começa a participar ativamente de um movimento de uma “aliança” única no país entre o bolsonarismo e o PT. Ele é presença confirmada num evento que acontece em 30 de julho, promovido por Marco Antônio Cabral (MDB), filho do ex-governador Sérgio Cabral e que trafega na área Castro-Bolsonaro. Ao lado de Ceciliano, na foto da convocação, Castro e seu pré-candidato a vice, Washington Reis.

Veja a convocação: 

A relação de Ceciliano estende-se a outros líderes do bolsonarismo no Rio, como o próprio filho de Jair, o senador Flávio Bolsonaro (PL-Rio) e o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB).

Rodrigo Amorim ficou conhecido por, ao lado de Daniel Silveira e Wilson Witzel, na campanha de 2018, ter partido ao meio uma placa com o nome de Marielle Franco. Veja abaixo foto de divulgação de encontro de Silveira e Amorim, no gabinete do segundo, segurando sorridentes metade da placa emoldurada -nela, lê-se parte do sobrenome de Marielle Franco e a expressão “Direitos Humanos”. Note que ao fundo, emoldurado, está um fuzil -e a foto do senador Flávio Bolsonaro.

Amorim e Ceciliano participaram, há cerca de um mês, de um programa da Rádio Tupi, no Rio. Há um vídeo de trechos da entrevista. Neles, os dois chamam-se mutuamente de “irmão” e Ceciliano faz uma referência claramente amável a Flávio Bolsonaro.

A gravação circulou em redes de ativistas de esquerda e gerou reações na direção do PT. 

Não se encontra nas redes de Ceciliano ou nos arquivos da Assembleia Legislativa do Rio uma crítica ao governador Cláudio Castro. Nem mesmo nas seguidas chacinas ocorridas nas favelas e periferias do Rio ao longo do seu curto governo. Castro é detentor de uma marca macabra: com pouco mais de um ano no poder, desde maio de 2021, Castro (PL) é responsável por três das cinco chacinas mais letais da história do Rio de Janeiro. Nenhuma crítica de Ceciliano.

A conquista de Ceciliano da Presidência da Assembleia Legislativa do Rio é um mistério. Não há precedente de um parlamentar de esquerda presidir uma Assembleia controlada pela direita -no caso, pela extrema direita. 

O PT tem apenas dois deputados estaduais no Rio. Toda a esquerda e centro-esquerda somadas têm mais 10 (PSOL, PSB, PDT, PCdoB e PV). Mesmo assim, Ceciliano é presidente. Um mistério.