Dia Mundial da Saúde Mental

2022-10-15 04:31:22 By : Ms. Crystal zhang

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Há 3 dezenas de anos uma Comissão Internacional das Primeiras Damas, de então, reconheceu que a Saúde Mental é condição e meta de bem-estar social e tomou a iniciativa de celebrar o dia 10 de outubro como o Dia Mundial de Saúde Mental.

Esta iniciativa mereceu a adesão da Federação Mundial de Saúde Mental e da Organização Mundial de Saúde.

A Associação Portuguesa de Saúde Mental, que representa em Portugal aquela Federação Mundial, associou-se a essa comemoração.

Esta proclamação tem como principais objetivos:

Passaram 30 anos e não estou nada otimista em relação ao cumprimento de qualquer um dos objetivos referidos, pois sei, todos sabemos, que impressiona muito mais às pessoas, a morte de um individuo com cólera, do que um milhão de indivíduos deprimidos.

Um estudo da Organização Mundial de Saúde, de há uns anos atrás, veio demonstrar a pertinência dos referidos objetivos, ao publicar o relatório de um trabalho efetuado em 15 países que investigou cerca de 30.000 fichas clínicas, chegando à conclusão, entre outras, que 24% das pessoas que recorriam aos cuidados de saúde primários, sofriam de perturbações mentais.

Também o Banco Mundial publicou, na mesma altura, alguns estudos sobre os Custos da Saúde, considerando que 10% das incapacidades para o trabalho são da responsabilidade das Doenças Mentais, fundamentalmente as de natureza emocional, e 28 a 30% do Orçamento para a saúde é gasto com perturbações Mentais.

Sabemos que o ansiar, o deprimir, o simbolizar e o depender, ou seja, a propedêutica da psicoterapia, não são causadas por uma avaria mecânica na engrenagem dos neurotransmissores cerebrais, como se de um fatal determinismo biológico se tratasse, como pretendem os adeptos da Psiquiatria Biológica, nem são os fatores sociais que, exclusivamente, fazem adoecer a pessoa. E este é o erro dos anti psiquiatras e de certos psicologismos.  Mas sim, a doença é o resultado dinâmico de uma inter-relação dialética, entre uma personalidade, morbidamente organizada, a que podemos chamar vulnerabilidade, e acontecimentos da vida ou situações existenciais insuportáveis, como solidão, stress, sentimentos de perda, insegurança, incapacidade, medo, rejeição, culpa, etc., a que chamámos traumatismo.

Sou de opinião que é este o modelo conceptual que melhor se ajusta à compensação das perturbações da mente e do comportamento, quer quanto à sua natureza, quer quanto à sua fenomenologia ou manifestação.

A fenomenologia, o tratamento e o prognóstico das perturbações emocionais, dependem da importância relativa dos fatores que intervêm na sua génese e que podem classificar-se em 4 grupos:

A hereditariedade, a personalidade e o suporte sociofamiliar, dão-nos o grau de vulnerabilidade de uma pessoa. Os acontecimentos da vida dão-nos o grau de importância do traumatismo.

Podemos definir como vulnerabilidade, a capacidade de uma pessoa para lidar com acontecimentos da vida.

A personalidade duma pessoa começa a formar-se desde uma fase muito precoce da vida, do seu desenvolvimento ainda bebé, e termina, praticamente, no fim da adolescência, conforme nos ensina a Psicologia evolutiva, ou do desenvolvimento.

O comportamento de uma pessoa depende, fundamentalmente, do seu mundo interno, ou seja, da sua estrutura intrapsíquica. Quer dizer que o mundo interno ou estrutura psíquica de uma pessoa, modula de forma decisiva o comportamento dessa pessoa com o mundo externo, ou seja, com o meio, ou seja, com as outras pessoas.

O mundo interno de uma pessoa é o corolário do tipo de relação que essa pessoa estabeleceu, desde o nascimento até ao fim da adolescência, com os Pais ou os seus substitutos afetivos, com a família e com o meio.

Por isso se diz que a família constitui um duplo fator de risco para a criança: genético e ambiental.

Esta elementar e básica noção, ensinada por todas as escolas de psicologia, e incompreensivelmente ignorada, ou, pelo menos, desvalorizada pela sociedade em geral, e por grande parte dos profissionais de saúde, do ensino e da justiça, acarreta à pessoa e à sociedade, elevados custos humanos, sociais e financeiros, em grande parte evitáveis.

Que se poderá esperar de um adulto, cuja infância foi marcada por violência, desprezo, negligência, abandono, rejeição, ausência de afeto, etc., por parte dos pais, dos adultos e da sociedade em geral? Como será o seu mundo interno? caracterizado por uma ausência de valores, mimos, pontos de referência de natureza ética, afetiva e moral, social? que nunca experimentou, ou viveu, uma relação emocional, sequer sentiu ou experimentou?

Será, inevitavelmente, um mundo interno caracterizado por sentimentos de revolta, agressividade, depressão, rejeição, etc. Esses sentimentos sim, experimentados e vivenciados no seu passado, nas suas relações emocionais que estabeleceu com o meio, a começar com a sua família.

Há uns anos atrás uma equipa de investigadores de uma Universidade Americana instalou-se no Quénia com o objetivo de estudar o comportamento de Macacos babuínos, cujo património genético é muito próximo do do ser humano e fizeram a seguinte experiência:

-Selecionaram um grupo de fêmeas que, quando procriaram, foram envolvidas em arame farpado, impedindo-as assim, de amamentar as suas crias, que tiveram por isso, de ser alimentadas a biberão. Essas crias, quando cresceram, e depois de engravidar e parir, recusaram-se a amamentar as suas crias.

Outro exemplo: era uma vez um casal, cujo marido era um alcoólico inveterado, com graves alterações de comportamento, particularmente em casa. Tiveram 2 filhos gêmeos. Homozigóticos. Portanto com um património genético em tudo semelhante. Um deles tornou-se um alcoólico, tal como o Pai. O outro um lutador antialcoólico. Foi feita a seguinte pergunta aos dois: porque é assim? A resposta foi a mesma: – com um Pai assim, queria que eu fosse como?

Fica ao critério do leitor a compreensão das duas situações expostas.

Criança privada das suas necessidades básicas, ou seja, amor e apreço, torna-se exigente e revoltada. Infelizmente, a sua justa e justificada agressividade não é compreendida pelos pais e, infelizmente, pelos técnicos de saúde e pelos, assim chamados, educadores.

E aqui começa o circuito infernal da agressão. Quando, na verdade, a agressão é a mera reprodução transgeracional.

Filho maltratado dá pai maltratante. O berço o dá e o túmulo o tira.

O ser humano tem uma capacidade enorme para amar ou para odiar. Mas capacidade não é o mesmo que realização. Para que a capacidade se desenvolva e exprima em ato mental ou de conduta, é necessário o contexto, ou meio, apropriado.  É, sobretudo, o ambiente humano que vai proporcionar, num sentido ou noutro, o predomínio do afeto positivo, ou negativo.

Não pretendo transmitir o conceito de que o ser humano é uma espécie de marionete, nas mãos do meio ambiente, tornando-se, por isso, um ser irresponsável e inimputável. Pretendo apenas chamar atenção para a importância relativa do meio na formação da personalidade de cada um.

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