Há um ano acontecia em Criciúma o maior roubo do Brasil

2021-12-29 08:50:44 By : Ms. Susan Cai

Há um ano Criciúma estava sitiada e refém de criminosos fortemente armados. Após uma série de atos violentos pela cidade, eles arrombaram a tesouraria regional do Banco do Brasil de onde roubaram R$ 125 milhões e depois fugiram deixando rastro de dinheiro, explosivos instalados - o suficiente para derrubar o prédio que abriga a agência -, medo e uma série de interrogações para os cidadãos criciumenses. 365 dias depois, o Portal Engeplus conta o drama vivido por pessoas que foram diretamente impactadas naquele fatídico dia. Também trazemos em detalhes os desdobramentos das investigações e o que aconteceu a partir de 30 de novembro de 2020. Ainda levantamos o que mudou nas forças de segurança e o aprendizado para evitar que crimes dessa proporção se repitam. 

O primeiro passo para entender a complexidade de tudo que aconteceu entre o final da noite do dia 30 e início da madrugada do dia 1° é saber que o assalto ao Banco do Brasil em Criciúma é considerado o maior roubo da história do Brasil em montante de dinheiro subtraído . O crime cometido contra o Banco Central em Fortaleza, no Ceará, quando R$ 164 milhões foram levados em 2005, se enquadra na modalidade de furto, já que não teve emprego de violência. Portanto, entre roubos, a investigação concluiu que nenhum outro teve mais dinheiro saqueado por criminosos quanto o ocorrido no Sul catarinense. Na lista aparece em segundo lugar o roubo de 720 quilos de ouro que ocorreu em 2019, no terminal de carga do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo (SP). Na época, o valor do ouro roubado estava estimado em cerca de R$ 109 milhões, conforme o delegado da Diretoria Estadual de Investigação Criminal (Deic/SC), Anselmo Cruz.

Outra informação que ajuda a compreender a gravidade do crime é a modalidade na qual ele está enquadrado. Em um primeiro momento, acreditava-se se tratar do ‘novo cangaço’, todavia, a investigação concluiu que o assalto faz parte do chamado ‘domínio de cidade’ , prática aplicada por dezenas de criminosos em cidades de médio e grande porte. As ações são mais demoradas que as praticadas no novo cangaço, também são mais violentas e com planejamento e construção ainda maiores, pois exige preparação para enfrentar efetivos maiores de policiais que os encontrados em pequenas cidades.

Estima-se que a quadrilha - muitos dos criminosos faccionados e membros do grupo criminoso paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) - levou um ano para planejar o roubo em Criciúma . Durante o período, utilizaram pelo menos dez imóveis no litoral Sul catarinense, incluindo um galpão em Içara, onde pintaram os carros de luxo utilizados naquela noite e de onde eles partiram em direção ao 9° Batalhão de Polícia Militar (9° BPM) e posteriormente para a área central da cidade. Também alugaram um imóvel em Três Cachoeiras, no Norte do Rio Grande do Sul, onde se passaram por agricultores. Foi para lá que o bando se deslocou em um caminhão após o roubo saindo de Nova Veneza e utilizando estradas vicinais, justamente para escapar da fiscalização montada na BR-101, trecho natural para o deslocamento entre as cidades. Lá, os policiais encontraram roupas e objetos, além de tintas possivelmente utilizadas para pintar os carros. 

“Quando se fala em uma ação dessa complexidade, as pessoas imaginam que é um grupo que vai lá, comete o roubo, leva o dinheiro para uma casa e divide da mesma maneira. Não funciona desta forma, estamos falando de algo extremamente organizado e estruturado onde existem contratações, digamos assim. Poucos que sabem do plano, que realmente preparam e tudo mais. O que existem são pessoas contratadas para ano e dia tal, tal horário, ir até cidade de tal estado, lá vão ter contato, dormir em uma casa e depois sair para ficar em tal ponto para não deixar a polícia chegar”, explica o delegado da Deic.

O tamanho da violência empregada é refletida no armamento pesado utilizado pelos criminosos e na quantidade de explosivos armados ao lado da agência. Entre os armamentos, diversos fuzis calibre 5.56 e 7.62, metralhadora .50 com munição antiaérea, terrestre e naval e com capacidade de perfurar blindagens. Já sobre os explosivos, um detalhe: estima-se que a detonação teria impacto letal em um raio de até 50 metros do epicentro com potencial para colapsar prédios na área central. Os artefatos foram desarmados pelo Esquadrão Antibombas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC).

“É um tipo de explosivo bem expressivo, do tipo metalon, com cordéis detonantes, espoletas e estopins e que são bem mais poderosos que bananas de dinamite. Ele poderia facilmente ser detonado se não houvesse o manuseio correto. Inclusive havia um celular acoplado nas dinamites que conseguiria acionar a carga com uma ligação”, explicou na época o tenente-coronel José Ivan Schelavi, então comandante do Bope. 

O inquérito da Polícia Civil, produzido pela Delegacia de Roubos e Antissequestro da Deic, possui mais de 1.000 páginas. Desde o início das investigações, 18 pessoas foram presas pelos crimes praticados em Criciúma, inclusive há detidos na própria Capital do Carvão , em penitenciárias fora do estado e em presídios federais. Entre os delitos identificados, estão o de posse de explosivos, uso de armamentos de calibres restritos ou proibidos e organização criminosa, além do mais grave: latrocínio .

“Não estamos falando apenas de um roubo. Estamos falando de uma situação de latrocínio. Houve uma vítima gravíssima, o policial militar (Jeferson Esmeraldino) que fica com sequelas permanentes com relação ao que aconteceu e com a violência que ele sofreu. Isso por si só já caracteriza o crime de latrocínio, que é o que tem a maior pena dentro do nosso estatuto penal no Brasil. Dentro do código penal o crime mais grave que existe é o de latrocínio. Com algumas qualificadoras diferentes ali, o mais pesado é o roubo seguido de vítima gravemente lesionada”, argumenta Anselmo Cruz.

De acordo com a plataforma do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), alimentado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública por meio de informações repassadas pelas Secretarias Estaduais de Segurança Pública, de 2015 até julho de 2021, foram registradas 5.167 ocorrências de roubos a instituições financeiras no país. Em Santa Catarina, no mesmo período foram registradas 255 ocorrências, oito delas em 2020 e sete em 2021. Sobre o novo cangaço, surgido na década de 90 no Brasil, e o domínio de cidades, praticado desde 2015, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina não possuem dados estatísticos direcionados para estas modalidades.

“Fui escoltado para o hospital”

O que não entra nas estatísticas é que tudo o que aconteceu no final do ano passado está longe de ser apenas um assalto, embora o produto final tenha sido o roubo ao Banco do Brasil. Os fatos que se sucederam naquela noite impactaram diversas pessoas de modo diferente, desde aquelas que simplesmente acompanharam pelos noticiários ou redes sociais, até as que moram perto de locais afetados, como o 9° BPM e a região central da cidade, onde inúmeros disparos com rifles de grosso calibre foram efetuados.

Teve também o olhar de quem viveu o drama de perto, como os policiais que entraram em confronto com os criminosos, o médico que salvou a vida do soldado Esmeraldino gravemente ferido no tiroteio, o dono da plantação de milho, em Nova Veneza, onde os carros utilizados no crime foram abandonados e do vigilante que cruzou pela Praça do Congresso e foi repelido com disparos de fuzis.

Não fiz nada mais do que eu deveria fazer. Eu não sou herói. Só quero alertar a sociedade que esse assalto não foi normal e que a gente vai esquecer. Isso afetou várias pessoas. E a gente tem que lembrar que o soldado Esmeraldino ainda está lá, e precisa de ajuda o tempo todo, não só hoje. Ele deu sua contribuição para a sociedade, e agora a sociedade precisa contribuir com ele. 

médico cirurgião da Unimed, Nehad Yusuf Nimer

O médico cirurgião da Unimed, Nehad Yusuf Nimer, estava em casa quando tudo começou. De sobreaviso, ele foi acordado com um telefonema e o pedido urgente que se deslocasse até o Hospital da Unimed, no bairro Ceará, a 750 metros do 9° Batalhão de Polícia Militar (9° BPM) - o primeiro alvo dos assaltantes. O motivo da necessidade: havia uma pessoa baleada.

O que o médico descobriu logo depois é que havia uma onda de violência e ameaças sobre Criciúma e que a pessoa baleada, na verdade, era o policial militar Jeferson Esmeraldino. O militar fazia parte da guarnição da radiopatrulha que prestou auxílio a uma viatura do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT) que foi acionada para retornar ao batalhão em pedido de reforço. No caminho, próximo ao Ibis Hotel (apenas referência), houve troca de tiros e Esmeraldino acabou atingido no abdômen. Ele foi socorrido às pressas até o hospital da Unimed.

Para Nimer, estava ali o primeiro momento de pressão e estresse vivido naquela madrugada, sobretudo porque precisava sair de casa escoltado pela Polícia Militar e se deslocar para uma das zonas mais inseguras da cidade naquele momento. Foram cerca de 30 minutos de trajeto e muita preocupação, não só para ele, mas também para a família que havia ficado em casa. “Tinha muita informação de que a cidade estava bloqueada, que não dava pra sair de casa porque tinham bombas espalhadas. Liguei para bombeiros e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). E todos dizendo que não poderiam sair. Para mim, sair de casa não foi nada fácil, foi uma decisão difícil. Eles (familiares) não queriam que eu saísse. Assim que eu cheguei no hospital eu avisei eles. Aí ficaram mais tranquilos”, declara.

Preocupação com a saúde mental

Não é uma situação simples do cotidiano, eu estava no automático, pensando no baleado, mas normalmente você chega no hospital e o baleado está lá para você atender. Eu consigo chegar com tranquilidade, segurança. Naquele dia não existia isso.

médico cirurgião da Unimed, Nehad Yusuf Nimer ________

O impacto causado pelo estresse sofrido naquela madrugada fez com que o médico cirurgião da Unimed procurasse ajuda para tratar a saúde mental . Neste aspecto, ele acredita que diversas pessoas tiveram impacto suficiente para necessitar deste auxílio, mas nem todas o fizeram.

“Eu procurei por decisão minha, mas isso envolve muita gente. Para mim, sair de casa sabendo que tinha alguém lá com um fuzil é uma coisa... qualquer ferimento pode vir a óbito. Em relação a isso que eu queria colocar para a sociedade: o julgamento que a sociedade fez sobre a PM, porque não saiu do batalhão, eles também tem gente do outro lado. Não é tão simples assim”, explica Nimer.

Assim como o médico, inúmeros moradores de Criciúma precisaram pensar em como se esconder do que estava acontecendo. Além da insegurança por não saber exatamente o que estava ocorrendo, o medo de uma possível bala perdida ou um atentado também pairava pela cidade. Daniela Burtet Machado mora com a família nas proximidades do 9º BPM e escutou os barulhos de tiros desde a chegada dos assaltantes à cidade. Abaixo você confere o relato:

Preocupação de mãe

Assim que os primeiros disparos foram dados na região central de Criciúma, a equipe da redação do Portal Engeplus já se movimentava para entender o que acontecia e como isso poderia ser noticiado ao leitor . Dribladas as 'fake news' e informações desencontradas que circularam a partir das 23h50 do dia 30 de novembro, a primeira matéria entrou no ar à 0h18min de 1 de dezembro com as informações de que um assalto acontecia na cidade. Pouco depois, à 0h37min, nossa equipe iniciou a cobertura em tempo real, orientando a população criciumense a permanecer em casa.

"É muito sentimento". É assim que Valdiceia de Sousa, a Ceia, mãe de nossa jornalista Rafaela Custódio, resume aquela noite. Por aqui, costumamos dizer que a Ceia cuida da redação - com almoços enquanto estamos trabalhando, com cuidados quando um dos nossos está com dor, e com muitos outros "carinhos de mãe". Por isso, quando toda a equipe se mobilizou para uma cobertura que seria a maior de nossa história, Ceia também se preparava. "Meu medo, minha angústia, era que acontecesse uma coisa extraordinária, mais do que já tinha acontecido, e eles [Rafaela e Thiago, jornalistas] tivessem no meio... um novo tiroteio", comenta Ceia. 

No vídeo abaixo você confere o depoimento de Ceia. Você também perceberá que ela cita, em sua fala, o jornalista Thiago Hockmüller, que também esteve na rua junto com nossos jornalistas Lucas Renan Domingos e Rafaela para essa cobertura.

A preocupação do proprietário da Vigilância Radar, José Altair Back, narrada no vídeo abaixo não é infundada. Muitos dos vigilantes da Radar - e de outras empresas - estavam nas ruas no momento em que tudo começou. Um deles, Luciano Aparecido Almeida, estava trabalhando justamente na rua Getúlio Vargas, onde fica o Banco do Brasil.

Após os criminosos atirarem em sua direção, o vigilante fugiu de onde estava. Durante a fuga, Almeida ainda cruzou com outros criminosos em diversos pontos da área central. Ao longo daquela madrugada, quem recebia o vídeo em aplicativos de mensagem se questionava se os tiros haviam atingido o carro e o motorista. Por algumas horas, inclusive, havia a informação de que um vigilante estava ferido em decorrência do assalto.

Mas não foi bem assim. Os tiros passaram por cima do veículo , e Almeida acredita que eles tenham sido disparados apenas como um alerta de que o vigilante deveria ir embora. "No momento em que eles atiram, a gente acredita que é na gente. Mas depois que você para e pensa, entende que eles fizeram para assustar. Porque se quisessem, tinham me atingido", avalia. 

Assim que a ocorrência acabou, Almeida já estava na rua novamente para ajudar como podia. "Muitos me perguntaram se eu não senti medo... ter medo é normal. É o que mantém a gente vivo. Eu gosto de trabalhar nessa área, mas é o medo que nos ajuda a sobreviver. Depois que a adrenalina vem, acabamos fazendo as coisas no automático", conclui.

Mais de 200 disparos contra o batalhão

Como em qualquer outra noite tranquila de segunda-feira, Criciúma estava pouco movimentada. Faltando cerca de meia hora para o dia 30 de novembro de 2020 chegar ao fim, o cenário pacato rapidamente se transformou em uma cena de crime e terrorismo. Os primeiros a identificarem que algo de errado estava acontecendo na cidade foram os moradores dos bairros Ceará e Jardim Maristela, localidades próximas ao 9º Batalhão de Polícia Militar de Criciúma (9º BPM). 

Foi a sede da PM criciumense o primeiro alvo dos assaltantes, por volta das 23h30. A ação começou com um caminhão sendo incendiado e jogado contra a guarita do 9º BPM, formando uma barricada em frente ao prédio, com a tentativa de evitar a saída de viaturas do batalhão. Logo na sequência, os bandidos, embarcados em aproximadamente dez carros escuros e armados com fuzis de alto calibre, iniciaram uma série de disparos contra o prédio. Mais tarde o Instituto Geral de Perícias (IGP) apontou que mais de 200 tiros atingiram a fachada do batalhão . 

Portal Engeplus · Cabo da reserva da Polícia Militar, Manoel da Conceição | Portal Engeplus

Os disparos assustaram os criciumenses. Policiais aquartelados e os que moram perto do 9º BPM logo identificaram os estampidos como tiros de fuzis. As informações, ainda desencontradas, começaram a ganhar proporções nas redes sociais e vídeos e fotos rapidamente passaram a circular em aplicativos de mensagem. 

“Uma guarnição da Rádio Patrulha e outra do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT) foram em direção ao Ibis Hotel, pararam e escutaram os disparos. Eles desceram das viaturas e foram progredindo a pé em direção ao viaduto da Via Rápida. A intenção era se abrigar no elevado e resguardar o batalhão, entrando pela lateral e fundos, porque poderia ser uma quadrilha tentando roubar armas ou ainda uma invasão ao quartel ”, recorda o coronel Cristian Dimitri, na época comandante do 9º BPM e atualmente no comando da 6ª Região de Polícia Militar (6ª RPM).

Após o ataque à sede da PM de Criciúma, o grupo seguiu em direção à área central, mas antes ainda trocaram tiros com policiais. As mesmas guarnições que tentavam chegar ao batalhão, acabaram indo de encontro aos criminosos, resultando em um confronto. 

“No início do deslocamento dos militares, o comboio da quadrilha estava se movimentando e os policiais não sabiam quantos eram, nem as suas características. Nove dos veículos estavam com as janelas fechadas (depois soube que eram blindados), porém o último veículo era uma caminhonete, estava com os vidros abertos e houve disparos dos criminosos contra os policiais, que também revidaram com mais de 80 disparos de fuzil e carabina calibre .40. A caminhonete foi localizada depois no milharal, já em Nova Veneza, e possuía marcas de tiros na porta do motorista e na lateral, bem como manchas de sangue no tapete, ou seja, pelo menos um criminoso foi ferido também”, lembra o coronel.

Na troca de tiros, o soldado Jeferson Esmeraldino, que posteriormente foi promovido a cabo e reformado por incapacidade física, ficou ferido . Ele foi alvejado no abdômen, passou por cirurgia e recebeu alta hospitalar depois de dois meses, permanecendo sob cuidados médicos atualmente em sua casa. 

Conforme a ação dos criminosos avançava, os fatos iam ficando mais claros. A informação inicial dava conta de que o objetivo dos bandidos era assaltar bancos da cidade, suspeitas que foram confirmadas já por volta da 00h55, em um áudio encaminhado por Dimitri:

Portal Engeplus · Coronel Cristian Dimitri Andrade | Portal Engeplus

4h35: o clima tenso traduzia o terror vivido em Criciúma. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

"Senti até o cheiro da pólvora"

Já na região central de Criciúma, a ação dos bandidos deixou claro qual seria o alvo: a agência do Banco do Brasil, localizada na avenida Getúlio Vargas. Para evitar que qualquer força policial se aproximasse deles, os criminosos montaram uma forte e bem elaborada estratégia de posicionamento. 

Os assaltantes pararam os veículos em dez cruzamentos nos arredores do Banco do Brasil . Eles renderam profissionais da Diretoria de Trânsito e Transporte (DTT) de Criciúma que trabalhavam nas ruas e os fizeram de reféns (confira a imagem abaixo). Para finalizar, iniciaram uma série de disparos de armas de fogo de alto calibre, mostrando todo o poder bélico que possuíam em mãos e aterrorizando os moradores do Centro. 

Próximo dos criminosos estava o vigilante Luciano Aparecido Almeida. Era quase meia-noite quando, como faz todas as vezes que está trabalhando, ele se dirigiu até uma das bases da empresa de vigilância que trabalha, localizada justamente na avenida Getúlio Vargas, entre a agência do Banco do Brasil e a Praça Nereu Ramos. Faltavam cinco minutos para a zero hora do dia 1 de dezembro quando ele ouviu as primeiras rajadas. 

“Eu olhei para frente, vi um carro estacionado na praça, no local onde a PM fica. Estava escuro, eu vi duas pessoas em pé, com fuzil na mão. Achei que era a Polícia Militar e pensei comigo: ‘Estão atirando pra quê?’ Quando eles viram que eu não saí, eles atiraram em direção ao carro, mas por cima do carro, nas árvores”, relata o vigilante. 

Ao ver que se tratava de criminosos, ele imediatamente ligou o carro e fugiu. No caminho para retornar para a empresa, Almeida passou por pelo menos três veículos dos assaltantes. “Quando cheguei em frente ao Banco do Brasil, eu vi um carro vindo atrás, eu achei que fosse eles, talvez não fosse, não tive certeza. Então eu subi na contramão, em direção a Praça do Congresso”, conta. 

Foi na Praça do Congresso que parte da quadrilha atirou em direção a viatura do vigilante. Nas redes sociais circulavam imagens do momento e, de início, acreditava-se que ele havia sido baleado, o que acabou não se confirmando . “Segui na direção da rua São José. E um dos carros deles quase bateu em mim. Tinha um cara sentado na janela, com um fuzil para fora. Esse atirou por cima da viatura. Eu senti até o cheiro da pólvora. Quando ele fez isso, eu acelerei. E foi quando despistei ele”, detalha. 

Ficar na mira dos bandidos não foi exclusividade do vigilante. Além dos reféns, a organização criminosa abordava pedestres nas ruas. Também do alto de um prédio da região central, um morador filmou o momento em que um veículo VW Gol de um cidadão é alvejado. Outro automóvel foi encontrado horas depois do assalto também perfurado por tiros, mas ninguém ficou ferido. 

Malotes de dinheiro e explosivos deixados para trás

Em meio a tantas informações, as notícias mentirosas também começaram a surgir. Rebelião no presídio? Criminosos fantasiados de trabalhadores de caminhão de lixo? Ladrões no alto dos prédios? Nada disso era verdade. E foi uma delas que fez a Polícia Civil ir para a rua, mesmo já sabendo da gravidade da situação. 

Chegou ao conhecimento do delegado Ulisses Gabriel, plantonista da Central de Plantão Policial (CPP) naquela noite, que parte dos criminosos poderia estar indo para a sede de uma empresa de transporte de valores, localizada próxima da CPP. Após verificar que tudo estava normal no local, os policiais civis, liderados pelo delegado e seguindo o instinto de evitar crimes, tomaram a decisão de partir em direção ao Centro da cidade. 

“Estava eu como delegado, um escrivão e três policiais civis. Solicitei que trouxessem colete balístico e uma arma longa e solicitei apoio de colegas. Começaram a chegar veículos descaracterizados. Na sequência chegaram 11 pessoas de Orleans, Forquilhinha e Criciúma”, enumera Gabriel. “Juntamos os policiais e começamos a descer a rua Desembargador Pedro Silva até chegar no Banco do Brasil, andando prédio por prédio, dos dois lados da via. Quando avistamos o Banco do Brasil, percebemos que pessoas estavam saindo do local com malotes de dinheiro, que mais tarde descobrimos que elas foram constrangidas a carregar os veículos dos criminosos e receberam parte do dinheiro como um prêmio”, afirma o delegado. 

Quando os policiais civis chegaram no local do assalto, o grupo de assaltantes já havia fugido em comboio nos dez carros em que chegaram. Para trás eles deixaram mais de 200 quilos de explosivos, capazes de derrubar não só o prédio da agência do Banco do Brasil, mas provocar uma explosão com um raio letal de 50 metros . 

Carros abandonados em Nova Veneza

Por ruas vicinais a organização criminosa conseguiu chegar até a região do Picadão, já no município de Nova Veneza. Lá, abandonaram os carros de luxo em uma plantação de milho , dentro de uma propriedade privada. Com os malotes de dinheiro eles escaparam em um caminhão, terminando assim o maior roubo da história do Brasil. 

Quem encontrou os veículos quando o dia clareou foi Fernando Warmling, proprietário do milharal. O roubo aconteceu na madrugada de terça-feira, mas desde domingo Warmlling prestava atenção redobrada na propriedade. "No sábado, meu pai viu um Celta entrar por aqui. Achamos que poderia ser o dono da propriedade chegando, e realmente poderia ser. Mas no domingo fui até lá para conferir se não tinham levado milho. Não tinham, estava bom. E aí na segunda-feira tudo aconteceu", relata.

Na manhã de terça-feira, durante a 'ronda' pela propriedade, Warmling avistou dois carros pretos abandonados no milharal. Logo em seguida, encontrou os demais veículos espalhados pela plantação, e ligou para a Polícia Militar (PM) de Nova Veneza. "Chegou até a dar uma amolecida na perna. Avisei a polícia que os carros do roubo estavam aqui. Eu soube que era porque as portas estavam abertas e tinha buraco de tiros", explica.

Carros foram abandonados em uma plantação de milho em Nova Veneza. (Foto: Fernando Warmling/Colaboração)

No dia seguinte à ocorrência, era comum que os criciumenses fizessem teorias de como a fuga havia acontecido. Alguns chegaram a cogitar a possibilidade de os criminosos terem fugido pelo rio Mãe Luzia que fica nos fundos da propriedade. Warmlling, no entanto, explica que isso não seria possível, pois naquela altura o rio é baixo . "Tem lugar que dá pra atravessar de caminhonete e trator", justifica.

O agricultor chegou a escutar rumores na região de que ele teria pego um malote com dinheiro. Além disso, na época circularam áudios pelo WhatsApp em que outros moradores da região diziam que ele teria pago um "xis-salada" para os criminosos. "É ruim para mim, né? Eu moro aqui a vida toda com minha família. Todos os dias passam caminhões transportando ração e milho por aqui, a toda hora do dia. Então, ninguém dá bola [para o barulho]. Não tinha como saber", conclui Warmlling.

A localização dos carros possibilitou diversos desdobramentos na investigação, como coleta de DNA por parte do Instituto Geral de Perícias (IGP), a identificação do vídeo do caminhão utilizado no plano de fuga e que levou os criminosos até uma casa em Três Cachoeiras, onde diversos materiais foram apreendidos e auxiliaram no restante do inquérito.

Veículos blindados foram recolhidos para perícia. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Operação Santa Forte prende 12 pessoas 

Prestes a completar um ano do assalto ao Banco do Brasil, em Criciúma, as investigações contra a quadrilha que realizou o maior roubo à banco do país ainda não terminaram. A Polícia Civil, o Instituto Geral de Perícias (IGP) e o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), desencadearam a ‘Operação Santa Forte’. As novas apurações apontaram a participação direta de 12 pessoas no roubo, sendo dez homens de São Paulo, um homem e uma mulher de Santa Catarina. Todos os envolvidos tiveram suas prisões preventivas decretadas pela Justiça em Criciúma na última semana de novembro de 2021.

A ação é coordenada pela Delegacia de Roubos e Antissequestro da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), sob comando do delegado de Polícia Civil, Anselmo Cruz, que informou que a primeira fase das investigações resultou no indiciamento de 18 pessoas relacionadas à organização criminosa responsável pelo roubo. Nesta nova fase, dez envolvidos já estão entre os 18 que respondem pelo crime de organização criminosa. 

“A denúncia foi ofertada pelo Ministério Público e é um desdobramento da primeira fase que foi realizada ainda em 2020. Agora, avançamos para responsabilizá-los pelo cometimento do roubo diretamente. Um roubo com diversas situações que agravam a situação da pena, porque envolve o uso de arma de fogo de calibre proibido, uso de explosivos, um policial militar que foi gravemente ferido e que caracteriza crime de latrocínio. Teremos continuidade com a identificação e as buscas nas investigações para responsabilizar todos os envolvidos naquele crime”, afirma.

Dos 18 denunciados pela 13ª Promotoria de Justiça de Criciúma nas duas ações, dez seguem presos preventivamente - cinco deles em penitenciárias federais -, seis recentemente tiveram a prisão preventiva substituída por medidas cautelares diversas - dentre elas, o monitoramento eletrônico-, e os outros dois, com prisão preventiva decretada, estão foragidos. Eles são acusados pelos supostos crimes de integrar organização criminosa, roubo qualificado, uso de documento falso, dano qualificado e incêndio, de acordo com a participação de cada um. 

A ação criminosa é investigada pela Polícia Civil, com apoio de uma força-tarefa designada pelo Procurador-Geral de Justiça, Fernando da Silva Comin, formada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e pelos Promotores de Justiça com atuação na área criminal na Comarca de Criciúma.

Delegado Anselmo Cruz é o coordenador das investigações. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Mortos em Varginha não tiveram participação no roubo em Criciúma

Ao Portal Engeplus, o delegado Anselmo Cruz também esclareceu que não há indício de que os 26 mortos em Varginha, em Minas Gerais, tiveram participação no roubo ocorrido em Criciúma. Eles foram mortos durante operação policial no dia 30 de outubro, em duas abordagens diferentes. Na ocasião, diversos fuzis foram apreendidos, além de explosivos, munições, granadas, miguelitos, coletes a prova de bala e dez veículos roubados.

O delegado da Deic explica que a grande maioria dos mortos em Minas, todos com idades entre 25 e 40 anos, eram daquela região. “Até o momento nenhum vínculo, nenhum indicativo de participação de alguém lá que tenha agido também aqui. Desde o dia da operação lá em Minas Gerais estamos em contato com a Polícia Civil mineira e nenhum apontamento até o momento no sentido de alguém de lá ter participado aqui. A grande maioria de lá, inclusive, pelas identificações, são da região mesmo, de Uberaba e Uberlândia, então com tudo que foi trabalhado de informações e vestígios, ninguém de lá esteve aqui”, explica.

“Grau acima de violência”

Acabou sendo o maior roubo do Brasil. Em termos de valores subtraídos, assalto propriamente dito, a subtração de valores mediante violência ou grave ameaça, então falamos de um roubo efetivamente. Nenhum outro no Brasil superou esse valor, o segundo que teve foi o roubo em Guarulhos, mas que acabou somando R$ 109 milhões na quantidade de ouro levada. E outras ações que tiveram ações maiores não eram roubo, eram furto. O Banco Central de Fortaleza e o cofre da agência Itaú na avenida paulista, lá em 1998, tiveram valores maiores, mas são furtos. Entraram, levaram e saíram sem serem percebidos, diferente do que aconteceu em Criciúma.

Delegado da Deic, Anselmo Cruz ________

A modalidade empregada pelos criminosos, chamada de domínio de cidade, foi inédita em Santa Catarina . Até então não havia sido praticado nenhum crime com essa proporção no estado. E isto trouxe lições para as forças de segurança pública.

As lições, claro, também geraram avanços:

“Com certeza muitas lições recebemos. Foi uma modalidade inédita aqui no estado e de um jeito ou de outro acaba tendo informações muito diferentes para se trabalhar, para lidar. E avanços também, como a troca de informações, como já se teve desde o primeiro momento entre as forças de segurança pública, todas que de um jeito ou de outro atuaram nesta situação. Já serviu de alerta. Fora isso, tem sido trabalhado os protocolos tanto pela Polícia Civil como pelas outras forças de segurança a partir deste episódio no estado”, pondera.

Diferentemente do imaginado por algumas pessoas, de que o dinheiro está guardado em algum lugar, os investigadores acreditam que os valores são operados em lavagem de dinheiro pela organização criminosa e servem para financiar outros crimes, como tráfico de drogas.

Dentro da Delegacia de Roubos e Antissequestro da Deic, há equipes que trabalham especificamente no caso . Até porque há um grande volume de dados que ocasionam desdobramentos em momentos distintos. Também não há uma previsão de quanto tempo será necessário para a finalização do inquérito.

“Sempre é extremamente difícil colocar um prazo limite. É um trabalho que segue diário, estamos falando de complexidade”, alerta o delegado da Deic.

Questionado sobre o roubo e sobre as medidas de segurança adotadas após a ocorrência, o Banco do Brasil se posicionou por meio de nota . “O Banco do Brasil informa que segue colaborando, no âmbito das suas atribuições, com as investigações das autoridades policiais, a quem cabe prestar mais informações sobre a ocorrência. O BB não informa valores subtraídos durante ataques às suas dependências. O Banco do Brasil dispõe de diversas soluções de segurança nas suas tesourarias regionais, que visam desestimular ataques dessa natureza -  inclusive dispositivo que inutiliza o numerário em reação ao ataque”, diz a instituição financeira.

E depois da noite de terror, o que mudou para a Polícia Militar? 

PM catarinense tem investido em treinamento e equipamentos. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

A Polícia Militar recebeu críticas e foi alvo de questionamentos sobre sua atuação durante o ataque ao 9° Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), no bairro Jardim Maristela, e também sobre os procedimentos realizados durante a fuga dos criminosos. Após o assalto, o comando da 6ª Região de Polícia Militar (6ª RPM) e do 9º BPM iniciaram projetos de mudanças em todos os setores . 

O primeiro passo da Polícia Militar foi habilitar policiais da radiopatrulha do 9º BPM para atirar com armamentos mais potentes , como fuzis. Além disso, eles terão essas armas no dia a dia. Um projeto de uma nova guarita blindada também está sendo desenvolvido . 

“Inicialmente, começamos a trabalhar com instalação física, armamento, equipamento, treinamento, inteligência e tecnologia. Conseguimos habilitar todos os policiais do radiopatrulhamento com fuzil 5.56 e já conseguimos disponibilizar para as guarnições fuzis com poder de fogo maior. Isso dá segurança aos militares e entra no estudo do custo benefício do marginal em uma possível ação e confronto. Esses fuzis nos trazem segurança e tranquilizam as pessoas. Conseguimos habilitar os militares quase 100% com esse armamento que é recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para forças de segurança”, explica o comandante do 9ºBPM, tenente-coronel Sandi Muris Sartor.  

O comandante da 6ª Região de Polícia Militar, coronel Cristian Dimitri Andrade, reforçou sobre as mudanças. “Tivemos um incremento com emendas parlamentares com os deputados estaduais e federais, convênios municipais, parcerias com empresários e até com um jogador de futebol profissional. Tivemos neste último ano um incremento para a 6ª RPM, da aquisição de 54 novos fuzis calibre 5.56, 22 carabinas calibre 40 e espingardas calibre 12, foram adquiridas 23 viaturas para radiopatrulha, mais quatro para o Pelotão de Patrulhamento Tático, sendo uma delas uma caminhonete vindo para o Tático da Força Nacional. Também 542 policiais foram capacitados e treinados com os novos armamentos (fuzil e carabinas táticas), especialmente com instruções de habilitação de tiro e procedimentos de segurança. Pensando no lado mental do policial, foram realizadas palestras em relação à saúde mental. Nós pensamos em cuidar de quem cuida”, ressalta.  

Além de Criciúma, cidades menores como Treviso, Nova Veneza, Forquilhinha e Siderópolis, que fazem parte do 9º BPM, passaram a possuir um fuzil 5.56 e o poder de fogo aumentou após o assalto ao Banco do Brasil. “Conseguimos também, o aumento de câmeras com Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR) , que nos traz inteligência artificial e possibilita um maior rastreamento. Conseguimos ainda prevenir os atos preparatórios antes que o crime ocorra”, comenta Sartor. 

Para o comandante do 9ºBPM, a tecnologia precisa estar à disposição da segurança pública. “A Prefeitura de Criciúma está disponibilizando também câmeras com OCR para que agreguem no nosso sistema e consigam acompanhar com velocidade a circulação de veículos e pessoas. A parte tecnológica também foi bastante importante após o assalto”, explana. “Teremos um drone para monitorar pontos de interesse também . Conseguimos por meio de emendas parlamentares adquirirmos armamentos, viaturas, coletes, equipamentos não letais e renovação de armamentos e substituições de calibres. Estamos adquirindo novas viaturas para a Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam). Vamos receber em dezembro mais uma viatura para o Pelotão de Patrulhamento Tático. Novas viaturas para o grupo da radiopatrulha também”, acrescenta. 

 O coronel Dionei Tonet, comandante da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), ressaltou que o assalto fez com que a instituição tivesse um alerta maior sobre as condições de emprego da tropa. “Tínhamos o efetivo até o comando anterior sendo utilizado em operações de uma cidade para outra. Cansávamos nosso efetivo com deslocamentos e desgastavam os equipamentos. Fizemos uma mudança neste conceito quando entramos no comando. O fator da ocorrência em Criciúma, que é a mesma que tem acontecido em outros estados brasileiros, acabou acontecendo desta forma e fez com que criássemos o curso que está em andamento em Santa Catarina, que ensina o policial a pensar regionalmente e não pensar em resolver o problema em um único local. Quando protejo toda a região, acaba mudando o foco. A Polícia Militar tem avançado também nos serviços de inteligência para coibir este tipo de evento”, explica.

Instalações físicas: quartel passará por mudanças 

Quartel da PM passará por mudanças, sobretudo no ponto de entrada. 

A sede do 9º BPM foi alvo dos criminosos e para que novos ataques não sejam realizados, diversos projetos estão sendo desenvolvidos. O primeiro é a mudança na entrada do batalhão . “Uma preocupação que temos é a nossa segurança física com as instalações e os pontos de vulnerabilidade do quartel, com isso, trabalhamos com a Prefeitura de Criciúma um novo acesso pela rua São Miguel do Oeste e foi aprovada pela Diretoria de Trânsito e Transporte (DTT). Essa obra vai nos dar um novo acesso e um controle das pessoas que entram e saem do quartel. Pois é impossível criar uma fila na Via Rápida para fazer controle de carros. Hoje, a pessoa entra no quartel e depois é identificada e isso será mudado. Temos até uma planilha, mas a mão, de algumas pessoas que entraram no batalhão”, conta Sartor. 

O projeto terá tecnologia e envolve também a mudança da guarita . “Teremos câmeras de voz para que o policial não tenha contato direto com os visitantes que chegam no quartel. Paralelo a isso, a Faculdade Esucri está nos ajudando com o projeto de guarita blindada  e depois vamos buscar os recursos para a realização. O novo acesso deve ser realizado ainda neste ano. Depois vamos buscar recursos para a guarita”, pontua. 

Quais foram os aprendizados? 

O comandante da 6ª Região de Polícia Militar explicou que algumas situações são inesperadas e surpreendem os policiais militares. "Tudo para nós tem que ter um planejamento específico, para que quando tenha uma ocorrência desta natureza, estejamos preparados. Neste ano, a Polícia Militar se organizou e tivemos treinamentos de qualificação para os nossos policiais. Fizemos um estudo de caso em Florianópolis, juntando os Bopes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, trocando experiências. Vimos ocorrências semelhantes em outras cidades do Brasil, para aprendermos de que forma agir. Em Araçatuba (SP), tivemos mortes de civis e um ciclista perdeu os pés pelos explosivos deixados pela quadrilha”, destaca Dimitri. 

Para o tenente-coronel Sartor as ações de não enfrentamento foram corretas:

Nossa missão é proteger e salvar vidas. Não tivemos nenhum morto. O embate na área central com 200 quilos de explosivos seria errado. Tivemos a fatalidade com o cabo Esmeraldino. Os explosivos teriam impacto muito grande no Centro da cidade e isso seria imperdoável para a Polícia Militar. Temos que tentar prevenir os atos preparatórios dos criminosos. Mas são situações difíceis de serem identificadas. Mas um ano depois, sabemos que nossa ação foi correta. 

comandante do 9ºBPM, tenente-coronel Sandi Muris Sartor ________

“Muitas estruturas internas nós mudamos, mas não podemos citar por questão de segurança. As mudanças externas foram aceleradas. Foram colocados mais fuzis na rua, e foram realizados diversos cursos com os militares. Depois do assalto, percebemos ainda mais que precisamos investir em tecnologia e inteligência artificial e a busca por drone com potencial maior seja de tempo de voo ou identificação de calor”, pontua Sartor. 

Sobre o não confronto com os criminosos, o coronel Dimitri foi enfático. “A decisão já está no nosso consciente coletivo. O que fazer? Não confrontar. Vamos ser sinceros, se tivéssemos um confronto na Praça do Congresso, os criminosos iriam atirar contra os policiais e as rajadas iriam para os apartamentos da área central. Precisamos ter responsabilidade, pois os meliantes não medem os seus atos e as suas consequências. Foi uma decisão nossa, e corroborada pelo comando geral da Polícia Militar de Santa Catarina também. Nós também ligamos para o comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais, para o comandante do Batalhão de Polícia de Choque, para que eles viessem para Criciúma. A ocorrência fugiu dos limites da nossa rotina e não tínhamos condição de atender sozinhos, sem o reforço. Foi uma ocorrência de alta complexidade”, afirma. 

O coronel Dionei Tonet ainda destacou que foi necessário parar um processo que acontecia de ilha, ou seja, atendimentos específicos para cada cidade e não para uma região toda. “Hoje estamos criando uma rede de proteção. Então da mesma forma que trabalhamos aqui no Sul do estado estamos fazendo em toda Santa Catarina. Colocamos mais efetivos, não no número que queremos porque estamos formando mais e traremos mais homens no início do próximo ano, para construir junto com a região Sul uma proteção maior. A integração da inteligência com o setor operacional tem ampliado nossa capacidade operacional e jogado os números da segurança dentro de patamares comparáveis com o primeiro mundo, é isso que Santa Catarina merece, que o morador do estado merece e que nós consigamos efetivamente melhorar a qualidade de vida dos policiais militares que trabalham e da sociedade a qual nós servimos", argumenta. 

O pedido por mudança na legislação 

Se pararmos e pensarmos na nossa legislação, ela está muito fraca. Temos a certeza da impunidade. Precisamos reforçar a certeza da punição.

comandante da 6ª Região de Polícia Militar, coronel Cristian Dimitri Andrade   ________

Conforme Dimitri, a quadrilha que agiu em Criciúma não é simples. “Se pararmos e analisarmos a nossa legislação está muito branda. Hoje o criminoso não tem mais a sensação da impunidade, mas a certeza dela. Nós tivemos um cabo [Jeferson Esmeraldino] ferido e não tivemos civis feridos ou mortos, pois estaríamos chorando até hoje. Foi um trabalho integrado entre as forças de segurança, foi alvo de estudo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Nas ocorrências de domínio de cidade, Criciúma conseguiu prender em três dias mais criminosos que todos os Estados do país, em situações similares. Foi a pronta-resposta para o crime e troca de informações com as demais forças de segurança", comenta. 

Para o comandante da 6ª Região de Polícia Militar, a legislação precisa ser mais dura. "Que estes criminosos tenham pena máxima, mas hoje em dia, eles não cumprem mais do que 15 a 20 anos, no máximo. Os crimes hediondos devem ter pena em regime fechado do início ao fim, não podemos ter progressão. Alguns marginais que foram presos desta quadrilha que atuou em Criciúma, já tinham praticado assaltos como este, de domínio de cidades no Nordeste brasileiro, com morte de policiais e civis, e estavam soltos por benefício da lei, por progressão ou saída temporária. Que os nossos representantes políticos façam a mudança na legislação, pois não podemos desencarcerar o preso e ele ir para a rua. São terroristas, nossa legislação deve ser mais rígida contra este tipo de criminoso. Essas quadrilhas dominam as cidades, causam pânico, morte, destruição e danos psicológicos", analisa.   

Conforme Dimitri, a legislação brasileira não tem crime de terrorismo. "Tem de roubo qualificado, associação criminosa, formação de quadrilha, tentativa de homicídio, lesão corporal grave, posse de arma de fogo e acessórios, é um conjunto de penas que vai se somando. Nós tínhamos 200 quilos de explosivos (nitrato de amônia) somados e a explosão poderia causar mortes e ferimentos até uma distância de até 600 metros de raio, no Centro de Criciúma. Alguns criminosos já foram presos e veremos a condenação deles”, destaca. 

Policiais estão recebendo treinamentos sobre crimes de alta complexidade. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

E se tivesse um novo assalto, a ação seria diferente?

O comandante da 6ª Região de Polícia Militar afirmou que se acontecesse um novo assalto, as ações seriam diferentes. “Não posso falar tudo sobre as mudanças, pois temos uma estratégia da corporação. Nossos policiais estão realizando cursos de ações de combate contra crimes violentos contra o patrimônio. Este é um curso específico para este tipo de ação, e repassa conhecimentos de como o policial vai operar em uma ocorrência de alta complexidade. Como será a rota de fuga e o perímetro? O que fazer em uma crise? É preciso treinamento, ensaio e planejamento”, reforça Dimitri. 

"O assalto pode ser evitado, não digo na totalidade, mas minimizado. Porém os bancos e as tesourarias regionais devem ter contato estreito com as forças policiais e repassar informações para os órgãos de segurança, o que não ocorreu no caso de Criciúma. Nós não tínhamos conhecimento de qual a dimensão e o valor que teria em Criciúma na época. Nós sabíamos que teríamos pagamentos de 13º salário e auxílio emergencial, por exemplo. Para o nosso planejamento dar certo, temos que ter comunicação e afinidade. Nossas redes de segurança também precisam funcionar com os cidadãos. Os proprietários das imobiliárias devem estar atentos e se preocupar com os imóveis que são locados, tais como casas, sítios, chácaras que são alugadas com meses de antecedência e com pagamentos de grande montante em valores antecipados. Requer atenção especial, e em caso de dúvida da idoneidade das pessoas, devem ganhar tempo, não alugar de imediato, solicitar documentos pessoais, registrar as informações e entrar em contato com as autoridades policiais", cita Dimitri.

Novos cursos, mais capacitação 

Os policiais estão passando por diversos treinamentos neste último ano, entre as atividades realizadas estão cursos de capacitação. Enquanto esta reportagem foi ao ar neste dia 29, os militares estão reunidos na Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec). "Teremos instrutores do Batalhão de Operações Policiais Especiais, da Agência Central de Inteligência, policiais capacitados, e não só de Santa Catarina, mas também de Minas Gerais e São Paulo. São mais de 50 policiais e no final será realizado um simulado de uma tomada de cidade com assalto a uma agência bancária da região", explica coronel Dimitri. 

Na avaliação de Dimitri, nos atos preparatórios, é possível vencer as quadrilhas. "Podemos estar averiguando um carro com ocupantes em atitude suspeita, uma pessoa que quer alugar uma casa, pessoas perguntando sobre câmeras de segurança na vizinhança, o que for suspeito, as pessoas devem nos informar, e devemos checar tudo. As informações chegaram aqui depois que o assalto foi realizado, se tivéssemos recebido antes, os atos preparatórios dos criminosos seriam quebrados e teríamos quebrado a espinha dorsal da quadrilha”, analisa. 

Segundo o coronel Dionei Tonet, o curso que acontece na Amrec ao longo dos próximos dias foi criado após o assalto ao Banco do Brasil. “É um curso de enfrentamento de modalidades violentas. Vamos capacitar os nossos policiais para fazerem enfrentamento destes crimes com minimização dos riscos à sociedade. Criciúma foi um exemplo, preservamos a vida da sociedade, não entramos em confronto em área habitável porque era isso que tinha que ser feito. Isso é o que os especialistas em segurança de verdade dizem. Alguns acabam agindo de forma equivocada e tecendo comentários indevidos sobre este processo”, afirma.

CRE: 6ª Região de Polícia Militar planeja novo espaço para 2022

Ataque ao batalhão mostrou necessidade de mudanças estruturais no local. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

O tema já é um desejo antigo da Polícia Militar (PM) de Criciúma, mas voltou ao debate. A 6ª Região de Polícia Militar (6ª RPM), está planejando a construção de uma nova Central Regional de Emergências (CRE) . Somente no número 190, a unidade inaugurada em 2006 atende em média mil ligações diárias de todas as cidades da Região Carbonífera e carece de um novo espaço para melhorias nos serviços.

Além dos policiais militares, na CRE de Criciúma trabalham um servidor da Diretoria de Trânsito e Transporte (DTT) da cidade e mais cinco profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que recebem chamados de toda a região Sul do Estado. 

Dessa forma, com mais de 15 anos em atividade, a atual estrutura da CRE de Criciúma precisa ser repensada para o futuro, ampliando, principalmente, o seu espaço físico. “Com a previsão da instalação de mais câmeras, automaticamente precisaremos de mais pessoas para fazer o controle desses equipamentos. E o espaço físico que temos atualmente não comporta esta evolução”, explica o tenente-coronel Ronaldo da Silva Cruz, chefe da CRE de Criciúma.

“Quando a CRE foi lançada, a proposta era de que quatro policiais realizassem o atendimento, porque naquela época o número de chamadas era bem menor. Hoje, a realidade é outra. Temos ali dez monitores, três estações de monitoramento e já é apertado. É preciso um novo local para melhorar as condições de trabalho”, reforça o sargento Marcelo Carradore, que atua no setor administrativo da CRE de Criciúma.

Uma questão de segurança

Polícia Militar aumentou poder de fogo após o assalto ao Banco do Brasil. (Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus)

O tenente-coronel lembra ainda que a outra preocupação é a segurança do local. “Em um evento como o assalto ao Banco do Brasil, em uma hipotética invasão do batalhão, a CRE estaria vulnerável. Esta ocorrência também fez a Polícia Militar repensar a segurança em seus quartéis, não somente em Criciúma, mas em todo o Estado. E aqui em Criciúma reforçou a necessidade de se pensar em um novo espaço para a CRE”, diz Cruz.

A ideia é que o novo espaço seja construído em uma área de aproximadamente 350 metros quadrados dentro do próprio terreno do 9º Batalhão de Polícia Militar de Criciúma (9º BPM). “A Central Regional de Emergência é o cérebro do policiamento. E por ali é coordenado o serviço na rua. Precisamos de um ponto mais adequado, mais calmo e seguro”, salienta o sargento Cassiano Sabino, que também trabalha no setor administrativo da CRE.

O primeiro passo é o projeto

O início da construção da nova CRE está entre as metas do comando da 6ª RPM para 2022. O primeiro passo foi conquistado, mas ainda precisa avançar. É que a obra ainda não possui projeto, o que inviabiliza a arrecadação de recursos para os investimentos necessários. Para isso, a Polícia Militar (PM) tem contado com as forças econômicas da região.

“O assunto foi levado para a Associação Empresarial de Criciúma, para a Câmara de Dirigentes Lojistas, para o Fórum de Entidades de Criciúma e outras instituições. O Forcri [Fórum de Entidades de Criciúma] nos disponibilizou um arquiteto que fará o projeto. A intenção é avançar nas tratativas para definir a estrutura e o valor final para a construção”, afirma o chefe da CRE de Criciúma.

Ele acrescenta ainda que a ideia já foi bem implantada nas entidades regionais, mas que ainda é preciso uma maior mobilização para que a proposta saia do papel. "Este passo da Forcri em disponibilizar o arquiteto já foi um grande benefício. Acontece que razões e justificativas para se ter uma nova CRE são fáceis de listar, o que a gente precisa é uma maior mobilização, principalmente política. O comando regional sabe dessa necessidade, o comando-geral conhece a intenção, mas sozinhos não vamos conseguir convencer o governador (Carlos Moisés) a alocar recursos para esta obra. É o que precisamos avançar", completa.

Bravura jamais será esquecida

Policiais receberam honraria concedida pelo governador de SC. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Do lado esquerdo do peito os cabos do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT) de Criciúma, Paulo Marcos Felisberto e Rafael Pickler Bez Fontana, exibem com orgulho a medalha “Cruz de Bravura Policial Militar”. A honraria é concedida pelo governador de Santa Catarina, por solicitação do comando-geral da PMSC, para militares que efetuaram atos de desprendimento, sacrifício e bravura demonstrados no cumprimento do dever . 

O reconhecimento foi pela atuação dos policiais na tentativa de evitar o que mais tarde seria confirmado como o maior roubo já registrado no Brasil: o assalto na agência do Banco do Brasil no Centro de Criciúma. Assim como Esmeraldino, eles estavam nas guarnições que trocaram tiros com os bandidos ainda na Via Rápida, logo após o grupo criminoso disparar mais de 200 vezes contra a sede do 9º Batalhão de Polícia Militar. Foram eles, inclusive, os primeiros a socorrerem o colega ferido, com o apoio dos então soldados Matheus Espíndola Aguiar e Leonardo Nunes dos Santos, os outros membros das guarnições. 

A coragem ainda lhes rendeu uma promoção, também por ato de bravura. Meses depois, os dois, que eram soldados na época do crime, alcançaram o posto de cabo. Os detalhes da atitude corajosa que terminou com os reconhecimentos estão eternizados na memória dos militares. 

Cerca de 200 tiros atingiram o 9° BPM, na Próspera. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

A Polícia Militar acredita que a estratégia dos assaltantes para conseguir chegar ao Banco do Brasil começou ainda antes dos disparos contra o 9º BPM. É que naquela mesma noite de 30 de novembro, as guarnições foram acionadas para atender duas ocorrências de alarme em instituições financeiras simultaneamente , na agência do Sicredi, no bairro Próspera, e no Banco Itaú, também do Centro da cidade, perto do verdadeiro alvo. Tudo não passava de trotes. 

“Nunca tinha acontecido dois [alarmes de banco] ao mesmo tempo. Achamos estranho. Com certeza eles estavam tentando testar a gente para nos monitorar”, acredita o cabo Felisberto. Atendida a ocorrência no Banco Itaú, os militares continuaram a fazer as rondas na região central. “No Terminal Central escutamos via rádio o pessoal pedindo apoio, porque estavam atirando no batalhão. De início pensamos que era um trote, mas na sequência veio outro chamado dizendo que era muito tiro e deu para escutar os disparos de grosso calibre na comunicação de rádio”, menciona. 

No caminho até o 9º BPM, a guarnição do PPT encontrou a viatura onde estava Esmeraldino e Espíndola. Juntos pensaram uma forma de se aproximar do batalhão. Pararam o carro em frente ao Ibis Hotel e progrediram a pé. “Pensamos em entrar pelo campo ou ir por trás, porque eles estavam na frente. mas não deu tempo, não sabíamos o que era. Quando chegamos, eles estavam saindo já”, afirma Fontana. 

Quando estávamos em frente à placa do Ibis vimos o comboio. Começaram a vir carros pretos e nós ficamos em prontidão, apontando e selecionando o alvo. O Fontana berrou: ‘São eles’. Quando ele falou, estava passando a última caminhonete e abriram fogo contra a gente. Acho que demos cerca de 80 disparos, em média, e só deu pra ver eles se jogando pro lado e acelerando.

policial do PPT, Paulo Marcos Felisberto ________

Foi ali o momento mais crítico durante a ação dos criminosos. Um dos disparos efetuados da caminhonete acertou o abdômen de Jeferson Esmeraldino. Tamanha era a adrenalina e a concentração no momento, que a fatalidade só foi observada após a troca de tiros cessar. “Quando a gente atirou, fomos fazer o check se estava todo mundo bem e vimos o Esmeraldino caído no chão. De início, achamos que tinha sido só o impacto, que pegou o colete e não fez nada, porque não víamos sangramento. Pegou um tiro bem do lado do abdômen. Tiramos o colete dele, ele não conseguia se mexer e era só uma perfuração. Tinha sangue só na borda do furo, pois estava com hemorragia interna”, lembra Felisberto. 

Até mesmo o pedido de apoio estava prejudicado naquele momento. Com o ataque no 9º BPM, os policiais militares aquartelados precisaram proteger os civis que trabalham na Central Regional de Emergências (CRE), sendo necessário que eles abandonassem o local de trabalho para se abrigarem. “A gente pedia reforço no rádio, mas a central ficou muda. Só retornou depois de aproximadamente meia-hora”, fala Felisberto. Após conseguir contato com a central, os militares solicitaram uma ambulância do Samu para atender Esmeraldino, que foi encaminhado às pressas para o hospital da Unimed. 

A missão dos policiais Felisberto, Fontana, Nunes e Espíndola não terminou por aí. Após fazerem a proteção de Esmeraldino até a chegada do socorro, eles se prepararam para um possível novo confronto. “A gente imaginou que o ataque no batalhão era para matar policiais ou roubar armas. Então pensamos que eles voltariam. Chegamos a nos reposicionar no alto do Ibis Hotel esperando por eles”, relembra Fontana. 

Com a chegada de outras guarnições táticas da região e da equipe Cobra do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) de Florianópolis, os policiais foram para a região central. “Naquele momento a gente poderia até reagir. Só que haviam muitas informações que acabaram nos atrapalhando. Uma delas era que havia sniper em cima dos prédios, mas era só um morador. Outra era de que haveria um ataque na Prosegur. E ainda tinham os reféns, que em uma troca de tiro a chance de uma morte seria grande. Em contato com o oficial do dia, resolvemos esperar e ver o que fazer depois”, argumenta Felisberto. 

Ainda em meio ao tiroteio, policiais de folga foram para as ruas. Todo o efetivo da Polícia Militar (PM) foi chamado e se espalhou em pontos estratégicos nas saídas da cidade para tentar interceptar os criminosos. O plano acabou não dando certo, já que os assaltantes haviam estudado muito bem Criciúma e fugido por estradas vicinais.

“O Esmeraldino deu a sua vida”

Cabo Felisberto mostra foto em que aparece Esmeraldino de serviço no HH. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

Fontana e Felisberto estão há cinco e 13 anos na Polícia Militar, respectivamente. Mesmo atuando no PPT, a guarnição da PM de Criciúma com maior poder ostensivo, eles nunca haviam vivido situação semelhante. “Eu nunca havia trocado tiro”, relata Fontana. “Eu já troquei tiro, mas não nesta dimensão”, emenda Felisberto.

Apesar da situação extrema vivida, eles afirmam não terem arrependimento de ter tomado a atitude de confrontar com os criminosos. “Meu sonho era ser policial. Ao entrar na polícia, nunca imaginamos uma situação dessa e, querendo ou não, você não quer trocar tiro, porque é a sua vida. A gente recebe treinamento, mas a decisão é na hora. Graças a Deus conseguimos desenvolver um trabalho, mas, por outro lado, é sorte estarmos vivos, passa um filme na cabeça”, analisa Fontana. “A gente só quis chegar no batalhão. Não queríamos saber se tinha cinco ou 100 [assaltantes]. Poderíamos estar mortos. Não sabíamos que era um assalto, só sabíamos que estavam atirando no batalhão, que eram muitos tiros de grosso calibre”, diz Felisberto.

A única lamentação dos cabos foi o desfecho de Esmeraldino. Após ser atingido pelo tiro de fuzil, ele passou por cirurgia, mas foi aposentado por incapacidade física. Atualmente, o policial está acamado e recebe o tratamento em casa, custeado pelo Governo do Estado. Por meio da campanha Pelotão da Solidariedade, coordenada pela Polícia Militar, os familiares conseguiram comprar uma nova casa, mais ampla, confortável e em lugar mais seguro. Para os companheiros de farda, a situação de Esmeraldino tirou um policial altamente capacitado das ruas. 

Cabo Fontana exibe medalha recebida do comando da PM em SC. (Foto: Thiago Hockmüller/Portal Engeplus)

“Ainda no domingo (um dia antes do assalto) eu e o Esmeraldino fomos em um barzinho. Eu pegava carona com ele. Fizemos o curso do Tático junto, ele morava perto da minha casa. Apesar dele ser reservado, estávamos sempre juntos. Depois que passou a situação, eu fiquei imaginando que poderia ser eu. O nosso instinto policial, mesmo nos fazendo refletir sobre valorizar mais a vida e as pessoas que estão ao nosso lado, nos faria fazer tudo de novo. O Esmeraldino deu a sua vida”, conta Fontana. 

Espíndola e Nunes também foram promovidos para a função de cabo e receberam a medalha "Cruz de Bravura Policial Militar". Os dois foram transferidos para Tubarão e receberão a condecoração em outra oportunidade, na unidade onde atuam. Mesmo com a incapacidade física, antes de ser aposentado, a Polícia Militar de Santa Catarina promoveu Esmeraldino ao cargo de cabo, também pelo ato de bravura na fatídica ocorrência de 30 de novembro de 2021. “O Esmeraldino era um dos melhores policiais que tínhamos. Era esforçado, tecnicamente muito bom. Tinha um QI a mais no quesito técnica. Mostrou toda a bravura dele. E quem acha que não foi um ato de bravura o que nós policiais fizemos, que pegue um fuzil e enfrente mais 40 caras também com fuzis”, completa Felisberto.

Enfim, o assalto ao Banco do Brasil de Criciúma transformou-se no maior roubo do Brasil e será lembrado, ainda, por muito tempo por inúmeros cidadãos. O ano que passou após o crime transformou-se em período de aprendizado e oportunidade para mudanças, seja para o setor de segurança pública ou para toda a sociedade Sul catarinense. 

Abaixo, deixamos uma série de links de reportagens publicadas na época para que você possa relembrar cada etapa do caso. Depois disso, você confere ainda uma galeria de fotos. Os registros foram feitos pelo jornalista do Portal Engeplus, Thiago Hockmüller.

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