Sabi: a nova loja de Lisboa junta vestuário nórdico e cerâmica japonesa – NiT

2022-07-22 20:26:39 By : Ms. Olivia Li

Num antigo prédio lisboeta, no número 116 da Rua da Madalena, a artista dinamarquesa Sarah Sofia Norbo encontrou um espaço onde conjuga todas as suas paixões. A loja parece uma galeria de arte — à semelhança de cada vez mais negócios deste segmento — e mistura objetos de cerâmica singulares com peças de roupa desenhadas para durarem uma vida. A inauguração ocorreu no dia 14 de julho.

“[A Sabi] é o acumular de todas as minhas paixões. Quando era criança, desenhava e pintava muito. Mais tarde, estudei desenho”, conta Sarah à NiT. “Quando vim para Portugal, procurava um sítio para pintar, porque queria criar mais arte. Quando andava por aí, sonhava em ter algo que estivesse realmente alicerçado em Lisboa e não apenas um estúdio”.

Antes de chegar a solo nacional, porém, a fundadora de 33 anos foi-se construindo enquanto artista noutros pontos do globo. No seu país de origem, licenciou-se e tornou-se especialista em têxteis, sendo que acabou por se mudar para Londres com 22 anos. Na Central Saint Martens, uma das escolas de artes mais prestigiadas do Reino Unido, continuou a estudar o papel dos materiais no futuro criativo.

No entanto, foi em Bali, na Indonésia, que viveu as experiências que mais a definiram como criativa. Entusiasmada com os artesãos locais e a sua mestria, começou a explorar o vestuário que atualmente compõe a loja. As peças que desenvolvia com os habitantes começaram a vender imediatamente. “Antes de chegar a Bali, não queria fazer moda”, revela.

Na mesma ilha, fez um curso de cerâmica japonesa com o artista Akira Satake. Decidiu focar-se na cerâmica por gosto pessoal, enquanto continua a vender roupa em inúmeras cidades e a participar em semanas da moda. Contudo, cansou-se da indústria da moda, da necessidade de fazer coleções e das viagens.

Mudou-se para Portugal em 2020, devido ao seu desejo de regressar à Europa e de encontrar uma comunidade local onde se apoiar: “É um País com uma forte cultura de artesanato — como os azulejos e a produção de têxteis — e não temos isso na Dinamarca. Ninguém é especializado num ofício”.

Cruzou-se com o edifício no qual se instalou quando andava a bater a várias portas em busca do espaço ideal. O chão em pedra foi o primeiro pormenor que a chamou à atenção deste canto, comprido e muito estreito. Apesar das limitações espaciais, foram as caraterísticas arquitetónicas do local que passou a ser seu que inspiraram o design das suas criações ali expostas. “Na primeira sala temos painéis de parede pintados e costurados à mão. Juntámos o tecido e representam todo o conceito da loja.”

Em causa, está uma tradição e estética japonesa designada de Wabi-sabi, aplicada sobretudo na cerâmica. O conceito pode resumir-se ao aquele verso de “Anthem”, de Leonard Cohen, que diz: “Há uma fenda em tudo. É assim que a luz entra”. Esta filosofia aplica-se ao conceito que estudou em Bali, onde o foco está na imperfeição e numa ligação à natureza. A assimetria, as irregularidades e as falhas honram cada material utilizado.

“A palavra ‘sabi’ significa a valorização da habilidade do trabalho manual. A imperfeição é o que torna as peças mais bonitas. Também se refere a coisas cuja beleza decorre da idade, o uso pode tornar um objeto mais valioso”.

Por isso mesmo, tudo na loja é feito à mão e de produção lenta. Por enquanto, o fabrico das roupas continua a ser feito na Indonésia, onde Sarah também mantém uma loja. “Queria que as famílias mantivessem os seus empregos, mas ao mesmo tempo, eventualmente, quero transferir a produção para Portugal”, diz.

No caso do vestuário, a artista sente-se atraída pela simplicidade do design escandinavo. É através do minimalismo nórdico com o qual cresceu, que Sarah apresenta uma seleção de peças que se distinguem mais pelas texturas do que pelas silhuetas ou cores. Para evitar que esta visão minimalista se torne aborrecida, combina os têxteis com técnicas do wabi-sabi, como bordas ásperas, fios expostos e um estilo distressed (ou seja, gasto).

São peças que não se definem por serem rígidas ou suaves, femininas ou masculinas. Criadas com fibras naturais e produzidas de forma sustentável, são pensadas para durarem muito tempo.

Numa outra sala — escondida por uma cortina, atrás de uma escultura imponente — surge a exposição das pinturas que a fundadora da Sabi continua a criar. No mesmo espaço, vai poder pintar e a captar a atenção de todas as pessoas que se cruzam com um edifício que evoca curiosidade.

Pode visitar a Sabi no número 116 da Rua da Madalena, em Lisboa, e o site será lançado em breve. Está aberta todos os dias das 11 às 19 horas. Carregue na galeria para ficar a conhecer melhor o espaço.