Centauro II: Velocidade e poder de fogo para a Guerra Moderna - Forças Terrestres - Exércitos, Indústria de Defesa e Segurança, Geopolítica e Geoestratégia

2022-07-01 20:30:39 By : Ms. Jing Xu

Por Santiago Rivas – pucara.org

Há muitos anos foram desenvolvidos diferentes modelos de blindados de rodas armados com canhões, que permitiam maior poder de fogo em missões de reconhecimento ou para apoio de infantaria, principalmente em áreas confinadas onde o tanque não era tão adequado.

Além disso, em missões defensivas permitem impedir o inimigo de liberar os tanques para a manobra. Nos últimos anos, quando o Exército dos EUA desenvolveu a ideia de reconhecimento em vigor, onde armas de grande calibre são usadas para forçar o inimigo a expor suas posições ao defender, mas onde é preciso velocidade para avançar e depois recuar, o blindado sobre rodas é mostrado como uma alternativa válida.

Essa visão foi defendida pelo Exército Italiano, que na década de 1980 começou a avaliar equipar algumas unidades com um veículo que combinasse o poder de fogo e a letalidade do tanque principal da força, na época o Leopard 1, com mobilidade estratégica pela rede de estradas e que poderia dar o combate inicial a qualquer ameaça até a chegada das forças pesadas. Assim, foi criado o Consórcio Iveco – OTO Melara (CIO), com participação igualitária entre a Iveco Veículos de Defesa, empresa do Grupo Iveco, e a antiga Oto Melara, hoje Leonardo, que em 1987 apresentou o blindado Centauro sobre rodas, com tração 8X8, pesando 24 toneladas, dotado de motor de 520 HP e equipado com canhão OTO Melara 105/52 de 105 mm.

O veículo foi incorporado pelo Exército Italiano a partir de 1989, que comprou 400, seguido pelos Exércitos da Espanha (84 exemplares), Omã (9) e Jordânia (141), e também foi avaliado pelos Estados Unidos, Rússia, Colômbia e Brasil. Em maio de 2001, um Centauro do Exército Italiano foi testado pelo Centro de Avaliação do Exército Brasileiro (CAEx) no Campo de Testes de Marambaia, no Rio de Janeiro (RJ), onde foi submetido a mobilidade off-road, terrenos acidentados, arenosos e lamacentos, disparando tiros estáticos e em movimento a distâncias entre 1.000 e 2.000 metros, todos resultando em acertos. Essa apresentação impressionou os militares do Exército Brasileiro (EB), mas não houve avanço na compra por falta de orçamento.

O canhão do Centauro podia disparar todo tipo de munição no padrão da OTAN, tanto cinética, como APFSDS-T (“perfuração de blindagem, estabilização de aleta, descarte sabot-tracer”), quanto explosiva (“anti-tanque de alto explosivo”) e HESH (“cabeça de squash de alto explosivo”), possuindo 14 cartuchos prontos para uso e outros 26 no chassi. O tubo foi coberto por uma manga aquecida para evitar distorções e por um extrator para evitar que a fumaça entrasse no compartimento de combate após o disparo, envenenando a tripulação.

O armamento secundário consistia em três metralhadoras MG42/59, no calibre 7,62x51mm, uma coaxial ao canhão e as demais em suportes antiaéreos no teto, operadas pelo comandante do veículo e carregador.

Além da capacidade antitanque, que permitia engajar os tanques mais pesados ​​e protegidos, o veículo também servia reconhecimento tático, apoio de fogo para infantaria mecanizada, escolta de comboios, patrulha rodoviária, interdição e dissuasão.

Centauro II e Centauro B1

Nos anos desde a introdução do Centauro, as necessidades mudaram no ritmo em que a guerra mudou. A experiência adquirida com o sistema Centauro, implantado em diferentes ambientes (Somália, ex-Iugoslávia, Iraque, etc.) tecnologias disponíveis para maior mobilidade, letalidade, conectividade e capacidade de sobrevivência.

Assim, por um lado, havia a necessidade de um chassi resistente a minas e engenhos explosivos improvisados ​​(IED, Improvised Explosive Device), um canhão mais potente devido à crescente adoção do calibre 120 mm nos tanques, aumento da demanda por armas táticas e mobilidade estratégica e mira, controle de fogo, sistemas de comunicação e proteção alinhados com a tecnologia do século XXI. A exigência inicial era desenvolver um sistema com o mesmo poder de fogo de um tanque pesado, mas em uma plataforma com rodas, garantindo alta estabilidade durante o disparo (estático e em movimento) e excelente mobilidade estratégica e tática.

Assim, o CIO e o Exército Italiano assinaram um contrato no final de 2011 para o desenvolvimento do sucessor do Centauro. Assim, o Centauro II foi introduzido em 2015, projetado para operar em qualquer cenário, desde guerra convencional até missões de fiscalização e/ou manutenção da paz em reconhecimento tático, apoio de fogo de unidades de combate e defesa territorial. Ele pode escoltar comboios e ser usado para missões de patrulhamento rodoviário. Ao contrário de seus concorrentes, não é uma combinação de um sistema de armas autônomo e uma plataforma derivada de IFV (Infantry Fighting Vehicle), mas sim um sistema completo projetado especificamente para essa função, como Operações de Cavalaria, para que o sistema seja otimizado em termos de desempenho e dimensões.

O blindado foi concebido como um sistema de armas leves para a doutrina moderna de guerra centrada em rede (Network-Centric Warfare), para servir em missões OOTW (Operations Other Than War) e para guerra urbana, onde a plataforma é muito mais funcional do que outras em termos de mobilidade e poder de fogo. Tem um peso de 30 toneladas, mas com maior poder de fogo, cujo chassis foi especificamente desenhado pela Iveco Defence Vehicles (IDV), mas com maior ênfase na proteção da tripulação, como evidencia a forma do “V” com dupla chapa de aço balístico, que desvia as explosões vindas de baixo. Possui revestimento interno de placas com “spall liner”, o que reduz bastante o número de lascas produzidas por um projétil perfurante; assentos balísticos e outras soluções de engenharia que garantem maior capacidade de sobrevivência.

Além disso, as partes mecânicas inferiores foram colocadas de forma a causar o menor dano possível se uma mina ou IED atingir seriamente o veículo.

A proteção balística possui níveis de proteção significativamente maiores do que os veículos desta categoria, pois o casco possui projeto próprio para este tipo de operação (e não o de um veículo blindado adaptado), soluções técnicas testadas de acordo com a norma AEP 55, capazes de enfrentando ameaças de munição cinética de próxima geração.

O motor é um Iveco-FPT Vector, 720 cv, com relação peso/potência de 24 cv, e equipado com dois turbocompressores que podem receber diesel, bicombustível ou querosene (JP-8 ou F-34), com injeção realizada através do sistema eletrônico “common rail”, 60% mais potente que a bomba injetora mecânica da Centauro, que confere ao veículo uma capacidade de aceleração capaz de se deslocar rapidamente mesmo em condições off-road, com autonomia de cerca de 800 km, o que o torna um veículo extremamente versátil para missões que exigem grandes deslocamentos.

O monitoramento digital da pressão dos pneus (CTIS), aliado aos sistemas run-flat, a nova suspensão e a baixa pressão nominal no solo permitem que o veículo opere em qualquer tipo de terreno.

Um dos pontos fortes do Centauro II é sua torre, a Hitfact MkII desenvolvida pela Leonardo, que junto com a versão anterior da família já entregou mais de 500 unidades em todo o mundo. Ao contrário da primeira geração da torre Centauro Hitfact, possui um sistema de movimento elétrico em vez de hidráulico, acrescenta a possibilidade de receber um canhão de 120 mm, enquanto o anterior só podia integrar um de 105 mm, possui sistemas ópticos de terceira geração, tanto panorâmica quanto para mira, possui sistema automático de carregamento de munição e proteção contra minas.

É projetado para três ocupantes, com perfil mais baixo, podendo utilizar o OTO Melara (atual Leonardo) 120mm, calibre 45, alma lisa, ou 105mm, calibre 52, tubo raiado, com sistema de carregamento manual ou semiautomático e capacidade para usar munição programável.

Possui uma escotilha do comandante com oito periscópios e uma escotilha do carregador com cinco periscópios. Graças à mais recente tecnologia empregada, é leve para ser integrado em plataformas leves e está equipado com a última geração de optoeletrônica para o comandante e artilheiro, incluindo o periscópio binocular panorâmico estabilizado de dois eixos ATTILA-D (Digital) independente de rotação da torre, permitindo ao comandante controlar o campo de batalha sem ter que girar a torre. Também é equipado com uma câmera infravermelha de formato completo ERICA capaz de detectar alvos acima de 10 km durante o dia ou a noite em todas as condições climáticas.

Ele também monta o LOTHAR-SD (Land Optronic Thermal Aiming Resource) para o artilheiro, capaz de compartilhar imagens com outros veículos ou centros de comando. Em caso de falha do sistema, o artilheiro possui uma mira óptica com ampliação de 10x. Outra melhoria notável é a estabilização independente de três eixos do canhão. Isso significa que, mesmo que o veículo esteja se movendo em terreno acidentado, o artilheiro terá uma imagem clara e estável do alvo em sua tela e poderá disparar com boa precisão.

Para comunicação externa, está disponível uma série de sistemas de comunicação com HF-VHF-UHF-UHF LB-SAT e o SIstema di Comando, COntrollo, e NAvigazione ou SICCONA (Sistema de Comando, Controle e Navegação). Essas melhorias garantem a máxima interoperabilidade com outras unidades blindadas ou de infantaria e a disponibilidade de informações sobre o terreno, meio ambiente, clima e teatro de operações em que o Centauro II opera. No total, são seis antenas na parte traseira da torre, sendo uma anemômetro (para medir a velocidade do vento), outra um transmissor GPS, duas são jammers (Sistema C4ISTAR), enquanto as duas últimas são usadas para comunicação.

A Hitfact MkII tem uma estrutura soldada e oferece proteção contra impactos e estilhaços. A possibilidade de instalação de módulos extras permite proteção contra projéteis de pequeno calibre. As posições da tripulação na torre são equipadas com assentos de absorção de energia. Há também um conjunto de sensores de radiação a laser para alertar se o veículo for alvo de um sistema de telemetria ou mira a laser, possui sistema automático de extinção de incêndio e proteção coletiva contra armas nucleares. Além disso, a torre fornece à tripulação maior segurança contra minas e dispositivos explosivos improvisados.

Na parte traseira da torre está o compartimento de munição, colocado separadamente do compartimento da tripulação, a fim de proteger os operadores de qualquer possível evento de deflagração.

O canhão OTO Melara 120/45 LRF (“low recoil force”) é derivado do 120/44, que equipa o tanque italiano Ariete, conferindo ao veículo poder de fogo igual ao dos tanques mais modernos em serviço e sendo compatível com todos os Munições da OTAN, como o APFSDS-T M829, o APFSDS DM 53A1, o HEAT-MP-T ou MPAT (“multi-purpose anti-tank”) M830A1, para alvos menos blindados, HE-OR-T (“alto explosivo – redução de obstáculos – tático”) ou MPAT-OR M908, para construções ou barricadas, o Canister M1028, antipessoal, ou HE (alto explosivo) DM 11, além de outros específicos.

A torre recebeu uma estação de armamento remoto Hitrole Light para metralhadoras de 7,62x51mm ou 12,7x99mm, ou um lançador de granadas automático de 40mm e está equipada com emissores Jammer H3 para defesa contra detonação remota de dispositivos explosivos.

Foi assinado um contrato com o Exército Italiano para a produção inicial em baixa taxa de 10 sistemas em 2018, e em 30 de dezembro de 2020, no Palazzo Guidoni, sede da Secretaria Geral de Defesa e da Direção Nacional de Armamento (SGD/DNA) do Ministério da Defesa italiano, o diretor de armamento terrestre, tenente-general Paolo Giovannini, e o diretor comercial do CIO, Giovanni Luisi, assinaram a compra de 86 exemplares do Centauro II, com opção de mais 10 unidades, logística integrada suporte (SLI), equipamentos e peças de reposição. Em 2021 foi confirmada a compra das 10 unidades extras e a necessidade identificada pelo Exército Italiano é de 150 veículos.

No primeiro trimestre de 2021, a Diretoria de Materiais (DMat), órgão do Comando Logístico do Exército Brasileiro, publicou consulta pública com o objetivo de sondar o mercado nacional e internacional com o objetivo de executar o projeto de obtenção de o novo Veículo de Combate de Cavalaria Blindada (VBC Cav) e promover um levantamento de custos.

Os requisitos iniciais, posteriormente com a designação VBC AC-MSR e criados no âmbito do antigo Grupo de Trabalho (GT) Nova Couraça, foram publicados em fevereiro de 2020 e deverão sofrer algumas pequenas alterações, mas os principais pontos devem ser mantidos como o sistema de tração 8X8, armamento principal (canhão) com calibres de 105 ou 120 mm, atribuição de um sistema de comando e controle (C2) interoperável com o da Força Terrestre, e máxima comunalidade logística com a família blindada Guarani.

Em 30 de abril de 2021, o RFI foi entregue e diversas empresas ofereceram seus produtos, inclusive o CIO, que se destaca por incluir um dos dois únicos veículos projetados, desde o início, para ser um caça-tanques. Mas não é só isso, apenas o seu veículo tem uma classificação verificada para poder usar o canhão de 120mm.

O Centauro II surgiu como um forte candidato, pois é um sistema de armas “de última geração”, sucessor de um veículo que já foi comprovado muitas vezes ao redor do mundo, oferecendo capacidades muito acima das forças leves e com maior flexibilidade e autonomia do que forças pesadas, permitindo operações mais longas em ambientes grandes e dispersos, com longas distâncias, exigindo menos esforço em termos de apoio logístico. É também um sistema aprovado pelo país da OTAN com recursos e desempenho de última geração.

Recentemente, em 9 de maio, o Exército Brasileiro aprovou os requisitos operacionais do programa Veículo de Combate de Cavalaria Blindada – Rodas Médias (VBC Cav-MSR) e indica que a efetiva fase de início da competição, com a publicação do “Pedido de Licitação” (RFT), para que os fornecedores realmente enviem suas propostas está prestes a começar.

A força indicou que só considerará veículos que estejam em “Produção Serial Inicial ou Consolidada”, que, se aplicada no contexto do sistema de armas (veículo + armas), deixa apenas como candidatos adequados o Centauro II , o Norinco ST-1BR e o LAV 700 Assault Gun da General Dynamics Land Systems (GDLS) e John Cockerill. Destes, apenas o Centauro possui canhão de 120mm e foi desenvolvido especificamente como AFV.

Além do Brasil, o Centauro é uma boa alternativa para substituir outros blindados sobre rodas da América Latina ou para desenvolver capacidade, principalmente em países com ambientes onde o tanque apresenta desvantagens, como áreas montanhosas. Assim, também poderia ser uma boa alternativa para exércitos como os do Peru, Equador, Chile e Colômbia, entre outros.

A Informação que eu tinha era que cada Centauro II poderia custar até U$ 18 milhões. Alguém tem informações maus precisas?

https://www.warfareblog.com.br/2019/08/iveco-oto-melara-centauro-ii-o-caca.html#:~:text=Agora%20entra%20em%20cena%20o,de%20um%20MBT%2C%20somado%20a

Certamente esse valor pago pelos italianos está defasado, diante da inflação global nos últimos anos, em especial a do aço e dos semicondutores. Mas não deve ter chegado aos US$ 18 milhões citados pelo colega.

Mais provável vencedor da disputa pra fornecimento ao EB o qual vai assinar o contrato de modernização dos Cascaveis no dia 07 próximo. Bacana mesmo seria o EB colocar a torre Hitfact MkII nos Leopard 1A5, padronizando o equipamento principal dos veículos.

Se adquirirmos esse tanque e a torre para os Leo, ficamos com uma força blindada de primeira grandeza.

Trabalho com mecânica pesada e possuo algum conhecimento e sinceramente o que desanima é essa mecânica Iveco, quem conhece sabe bem do que estou falando, para quem não conhece é só pesquisar um pouco sobre o assunto e verá, aliás os produtos italianos motos/carros/caminhões/maquinas etc…carecem de confiança quanto a durabilidade principalmente se comparado com os alemães, quem teve sabe bem.

Aqueles 200 Centauros I usados oferecidos ao EB subiram no telhado e pularam?

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